Dicas de turismo LGBT por viajantes gays
Site de viagens gay apresenta roteiros para viajantes LGBT
Todo viajante pesquisa bastante sobre os lugares antes de uma viagem. Mas e se for um viajante gay, as dicas de viagem mudam? Conheça o Rafael, a Amanda, a Eloah e o Fábio que, juntos, escrevem sobre roteiros e destinos de turismo LGBT no site Viaja, Bi!. O Viaja, Bi! mostra os lugares que visitam sob a ótica de homossexuais para viajantes de turismo LGBT. Sendo a homossexualidade ainda um tabu em muitos lugares, a equipe do blog de viagens sabe o quanto pode ser ruim para um viajante estar em um destino homofóbico ou com outras singularidades. É pensando em minimizar os riscos e garantir uma boa viagem para o público homosexual que o Viaja, Bi! produz diversos roteiros de turismo LGBT. O Instinto Viajante conversou com a equipe mega simpática do Viaja, Bi! para saber mais sobre como é a estrada para viajantes LGBT's. Confira a seguir!
Olá, pessoal! Conte-nos um pouco sobre si mesmos e o Viaja, Bi!.
Viaja, Bi!: O projeto nasceu no final de 2014 depois de germinar por mais de 2 anos e veio pra suprir uma necessidade de fontes na internet sobre viagens focadas no público LGBT. Essas informações eram encontradas, mas muito difusas e, normalmente, em sites de conteúdo sexual. O Viaja, Bi! é a junção de 4 blogayros apaixonados por viajar:
- Rafael Leick se formou em Publicidade, trabalha como gerente de projetos e blogueiro e é idealizador do projeto. - Amanda Fernandes é formada em gestão bancária, adora comer, viajar e fotografar. - Eloah Cristina é formada em design de mídias digitais e pós-graduada em Gestão de Projetos. - Fábio Pastorello se formou em Letras e é cinéfilo, fotógrafo, videomaker e um rômantico inveterado.
A quanto tempo o Viaja, Bi! existe e qual a pretensão de vocês?
Viaja, Bi!: O projeto tem 9 meses e tem a proposta de mostrar lugares que o público LGBT pode ir tranquilo que serão bem acolhidos e se sentirão bem, além de falar de viagem através do olhar de gays e lésbicas. Isso também inclui uma parte menor do nosso conteúdo que aborda direitos civis e lugares homofóbicos.
O que motivou ou inspirou vocês a realizar as viagens e o projeto de turismo LGBT?
Viaja, Bi!: Era muito difícil encontrar conteúdo de viagem para turismo LGBT sem ser nos guias oficiais, que tem uma cara mais comercial e impessoal ou em sites de sexo e pornografia, que só focavam em pegação. Nosso objetivo é nos tornarmos uma referência em viagem para os gays, lésbicas e afins que estejam planejando suas férias ou buscando um destino novo para explorar.
Como funciona, exatamente? Vocês estão na estrada agora, viajam de vez em quando, ao viajarem vão sempre os quatro ou não exatamente...como é?
Viaja, Bi!: Viajamos sempre que podemos ou quando somos convidados. Como também temos outros blogs individualmente, a maioria das viagens não é feita pelo grupo todo, mas já fizemos nossa primeira viagem em grupo para o Rio de Janeiro esse ano que teve até praia de nudismo, foi bem legal e compartilhamos essa viagem no nosso blog e redes sociais. Agora estamos planejando as próximas.
Quais lugares vocês já visitaram?
Rafael: Já passei por 21 países, alguns na América do Sul (Chile, Bolívia e Argentina), além de vários lugares pelo Brasil. Morei por um tempo em Londres, então deu pra conhecer vários países da Europa (Alemanha, Áustria, Inglaterra, Escócia, País de Gales, Irlanda, França, Espanha, República Tcheca, Itália, Hungria, Eslováquia, Polônia, Portugal, Principado de Mônaco, Vaticano e Suíça). Fábio: Eu já visitei alguns países da América do Sul (Argentina, Chile, Peru), América do Norte (Estados Unidos, Canadá, México) e Europa (vários, mas os principais foram França, Itália e Grécia). Amanda e Eloah: Brasil e México.
O que seus amigos e familiares acham desse estilo de vida e do turismo LGBT?
Amanda: Acham complicado e estranho, mas adoram. Tratam como se eu fosse uma minicelebridade. Fábio: Minha mãe não curte muito não, reclama toda vez que eu vou viajar. Mas depois que o pessoal começou a comentar com ela sobre as viagens que eu faço e como todo mundo acha legal ter esse estilo de vida, ela começou a curtir também e outro dia até me perguntou porque fazia tanto tempo que eu não viajava. Rafael: Meus amigos acham que nunca estou no Brasil e que não trabalho. Minha família entende que ser blogueiro é um trabalho e que eu trabalho demais. Mas me respeitam e, principalmente, me apoiam em tudo que eu faço. O apoio da minha família foi essencial pra eu “sair do armário” publicamente criando o Viaja, Bi!.
Vocês usam dinheiro na viagem? Pouco, muito, como é?
Fábio: Super econômico nas viagens. Nessa última viagem para a Europa, teve dias em que a gente almoçava e jantava sanduíche natural de supermercado para economizar. Em outras, a gente se deu uns luxos e fomos jantar em alguns lugares legais. Rafael: Meu prazer é viajar, então, eu economizo no dia-a-dia pra poder gastar em viagem, caso precise. Eu sou mochileiro, então só fico em hostel e tenho um estilo de viagem mais roots, mas muitas vezes me permito uns luxos, como na última viagem com meu pai, que ficamos o dia todo num termas na Hungria, só relaxando. Amanda e Eloah: Na maioria delas sim. Nem sempre aparece uma viagem 100% patrocinada.
Vocês juntaram dinheiro e foram viajar ou trabalham durante a viagem? Como juntaram e/ou como se mantém?
Amanda e Eloah: Para sobreviver aos primeiros 2 anos de blog, nós juntamos o dinheiro antes de pedir demissão do emprego. Hoje trabalhamos com o blog e criamos blogs para outras pessoas. Além de freelas de fotografia e outras coisinhas que aparecem. Fábio: É difícil viver só de blog, portanto antes de conseguir dinheiro para fazer algumas viagens, tive que ralar bastante em empregos comuns. Fui bancário durante muitos anos. Rafael: Eu tenho um emprego de 2ª a 6ª, no meu tempo livre trabalho para os 3 blogs que eu tenho e no meio disso, tento encaixar minhas viagens sem atrapalhar o resto. Por isso, quando viajo, eu procuro só aproveitar, não trabalho e desligo um pouco do mundo. O máximo é postar fotos nas redes, pra não ficar tudo parado. Antes de viajar, já deixo alguns conteúdos preparados pra entrar enquanto eu estiver fora.
Como vocês administram esse dinheiro na estrada?
Fábio: Sempre com muita economia, para poder viajar mais depois. Rafael: Eu não gasto muito com coisas materiais, a não ser que sejam muito baratas ou com alguma coisa que no Brasil é muito cara, mas eu costumo gastar mais com experiências do que com bens materiais.
Alguns podem falar que o site de vocês é apenas para viajantes de turismo LGBT. O que vocês têm a dizer sobre isso?
Viaja, Bi!: O site é focado no público LGBT, mas as dicas são válidas para todos. Até mesmo porque falamos sobre viagens em geral. A ideia é falar de viagem sob a ótica LGBT, com muito bom humor, então são dicas focadas nesse público, mas não exclusivas.
Imagino que vocês devam sofrer ainda - infelizmente - muitos preconceitos na estrada. Isso realmente acontece? Como vocês lidam com isso?
Rafael: Eu não sofri muito com preconceito na estrada talvez pelo estilo de viagem. Como fico em hostels, Couchsurfing e gosto de conhecer outros mochileiros, normalmente essas pessoas já tem a cabeça mais aberta. Mas acho que se eu passar por alguma situação assim, vou procurar resolver como for possível. Claro que em países que sabemos que são homofóbicos, não vou sair beijando na boca no meio da rua, não quero chocar as pessoas, quero só viver minha vida normalmente e isso inclui eu ser gay. Então, se eu estiver namorando e quiser pedir uma mesa pra dois ou ficar de mãos dadas no parque, porque não? Fábio: O preconceito diminuiu bastante, mas depende de alguns destinos e também do seu grau de exposição. Por característica pessoal, sou mais discreto e raramente eu e meu namorado fazemos demonstrações de afeto em público. Mas acho muito bonito quando vejo um casal andando de mãos dadas por aí, em alguns lugares do mundo isso é absolutamente normal e ninguém vai olhar torto para quem decide demonstrar seu amor em público. Amanda e Eloah: Sim, acontece. É só não perder o rebolado e não deixar a homofobia estragar a nossa viagem. Afinal, viajar é o que mais gostamos de fazer.
Que conselhos vocês dariam a outros viajantes que fazem turismo LGBT?
Viaja, Bi!: O conselho é pesquisar sobre o destino que vai conhecer, como é a cultura e o que eles aceitam ou não. Na verdade, é uma dica que vale para qualquer viajante. É necessário o mínimo de conhecimento da cultura do lugar visitado para conviver bem nesse destino. Mesmo as mulheres podem estar sujeitas a olhares tortos se usarem saia em alguns lugares. Então, vale a pesquisa básica antes de embarcar.
Muitos também sonham em viajar o mundo, mas não tem coragem, grana ou se dão outros motivos, o que vocês diriam a estes?
Viaja, Bi!: Todo mundo pode viajar, hoje existem facilitadores como dormir no sofá de um desconhecido em outro país com segurança, pode fazer as refeições nas casas das pessoas, e até trocar trabalho por hospedagem e comida. Se o negócio for falta de coragem, vale dar uma olhada em blogs de viagem que compartilham experiências pessoais e levar em conta que a vida é curta e o mundo grande demais. Não dá pra perder tempo com medo. Se você tem um sonho, já é meio caminho andado. Aí é só correr atrás e, se precisar, pedir ajuda. Os blogueiros normalmente tem por padrão vontade de ajudar e incentivar pessoas a viajar. Explore isso.
Qual é o estilo de turismo LGBT de vocês? Se hospedam em albergues, camping, hotéis?
Amanda e Eloah: Todas as viagens fazem o nosso estilo! Mas gostamos do mínimo de conforto. Então camping não entra na lista. Fábio: Depende da viagem. Esse ano já fiquei em hotéis mais sofisticados, hotéis baratos e também em albergues. Mas hoje tenho uma visão diferente do que tinha no passado: hotel não é só para passar a noite. O lugar onde você fica interfere muito em como será sua experiência no local. Portanto, pesquiso bem antes de ir pra não cair em nenhuma roubada. Rafael: Meu estilo é mochileiro e com viagens de experiências. Gosto de grandes centros urbanos e também de estar perto da natureza, que sempre me surpreende. Fico em hostels normalmente, mas já me hospedei em Couchsurfing. Se precisar, eu fico em hotel, mas acho que o mais legal da viagem é a troca que você tem com o lugar. E o hotel restringe um pouco isso. Acampar está na minha lista pras próximas viagens, a barraca já tá pronta pra armar.
O que vocês acham do atual cenário brasileiro em relação ao turismo LGBT?
Viaja, Bi!: Aqui no Brasil as pessoas são muito contraditórias e a homofobia é gigantesca. Até mesmo na cidade de São Paulo, com toda sua modernidade e pluralidade de raças e credos, em plena Avenida Paulista você pode ser vítima de preconceito. O avanço em algumas questões nos direitos e exposição do tema têm incomodado alguns setores da sociedade. Infelizmente ou felizmente, é preciso se impor e se expor para garantir os direitos conquistados. Mas estamos otimistas e já vemos várias iniciativas pipocando a favor da comunidade e turismo LGBT.
E o cenário mundial?
Fábio: Acho que estamos avançando em alguns lugares, em outros não, mas no geral vejo um avanço em termos de visibilidade e direitos. Rafael: Depende muito do país, tem lugares em que você pode ser morto por ser gay, como em vários na África e outros que incentivam esse público a visitar cidades que são consideradas hétero-friendly, como Tel Aviv, em Israel. Amanda e Eloah: Mudanças muito grandes estão acontecendo lá fora, e de forma muito mais rápida que aqui.
Vocês sentem medo de algo?
Amanda e Eloah: Muitas vezes sim. Geralmente viajamos para lugares desconhecidos, então o medo acompanha o tempo todo. Fábio: Muitos medos, viajo um pouco tenso o tempo inteiro. Na minha última viagem vários medos foram realizados: quebrei minha máquina fotográfica, meu notebook também quebrou e meu cartão de crédito foi bloqueado no meio da viagem. Essas coisas acontecem, é preciso jogo de cintura para que elas não estraguem a viagem. Rafael: Sim, do dia de voltar pra casa. Viagens são prato cheio pra quem tem medo. Mas esse é o barato. É viajando que você se desafia e se desafiando é que você se descobre.
E os medos que haviam antes de começar, quais eram? Eles permanecem?
Viaja, Bi!: É uma questão bem subjetiva, mas acho que as viagens estão aí pra gente se desafiar e perder os medos. Antes de lançar o Viaja, Bi! eu tinha vários medos. Ser assumido pros amigos e pra família é uma coisa, agora ser assumido publicamente e falando sobre o assunto, é um tantinho mais complicado. Entre outras coisas. Hoje, a gente se sente mais seguro, confiante, sabe do que o projeto é capaz e da nossa importância e responsabilidade, até socialmente falando. Muitos medos foram vencidos. Outros vieram. E assim é a vida.
Qual foi a coisa mais importante que vocês aprenderam nas viagens até agora?
Amanda e Eloah: Que tem muito lugar maravilhoso, muita cultura desconhecida e muita coisa para aprender. As possibilidades são infinitas. Rafael: Que as pessoas são diferentes e respeitar isso, mesmo sem concordar, é o melhor aprendizado pro nosso crescimento pessoal. E que nenhum carro do ano paga ver o pôr-do-sol do alto, no meio do Deserto do Atacama e se sentir tão conectado com a natureza. Essas experiências mostram que somos só um pontinho no meio do nada, então não tem porque nos sentirmos mais do que o outro pontinho ao nosso lado.
Qual a parte mais difícil no turismo LGBT? E a mais fácil?
Viaja, Bi!: Acho que a parte mais complicada é tempo e dinheiro. Eu trabalho, então é muito complicado conseguir viajar barato só em fim de semana ou feriados. Ao mesmo tempo, a coisa mais fácil pra mim é esquecer um pouco do relógio e deixar as coisas acontecerem mais naturalmente. Amanda e Eloah: O mais difícil é ter que voltar para casa e o mais fácil é acordar cedo para aproveitar tudo.
Que conselho vocês dariam para as pessoas que procuram fazer algo semelhante?
Viaja, Bi!: Se joga! Viaja, bi!
Vocês indicam alguns facilitadores para viajantes de turismo LGBT além do site de vocês? Seja para conseguir hospedagens, encontrar grupos de mesmo interesse, etc...
Viaja, Bi!: Ainda são poucas as iniciativas focadas em turismo LGBT, até por isso criamos o site, mas vez ou outra estamos compartilhando os links no Facebook do Viaja, Bi!. Vale curtir e acompanhar. Recomendamos também entrar em grupos de discussão nas redes sociais, tirar dúvidas e procurar saber sobre seu destino antes de viajar.
Querem acrescentar algum pensamento ou observação?
Viaja, Bi!: A gente agradece demais a oportunidade de contar um pouco do nosso trabalho com Turismo LGBT e da nossa história e queremos ver cada vez mais, mais “bis” indo viajar, então contem com a gente pra tirar dúvidas. Não sabemos de tudo, mas tentamos ajudar com o que conseguirmos. ;)
Foto divulgação: viajenarede.com.br