Casal viaja e compartilha dicas para viajantes vegetarianos
Projeto mapeia opções para viajantes vegetarianos em diversos destinos
Se você endossa a lista de viajantes vegetarianos ou veganos sabe o que é passar dificuldades para encontrar opções nos cardápios dos bares e restaurantes de diversas cidades quando está na estrada. A proposta do Vegetariando Por Aí - Turismo Vegan é justamente livrar viajantes desse aperto. O casal vegano Daniele e Tiago viaja por todos os cantos, mapeando opções vegetarianas e veganas nas grandes cidades. Hoje o canal de entrevistas do Instinto Viajante conversa com esse simpático casal, mostrando como é a vida na estrada para viajantes vegetarianos, como se viram e os detalhes do dia-a-dia. Confira a seguir!
Olá, Daniele e Tiago! Conte-nos um pouco sobre si mesmos e o projeto.
Daniele: Sou educadora, coordenadora do grupo União Libertária Animal (ULA), que foca na educação de direitos animais para crianças, e vegana há 8 anos. O Tiago é consultor de negócios, e um dos idealizadores do Geekeria e do Já Pensou - Empreendedorismo Social, e vegano há 5 anos. Ambos, ULA e Já Pensou, foram criados com intenção de trabalhar seus conceitos na zona oeste do Rio, principalmente com atuação em Campo Grande. Eu e Tiago nos conhecemos na UFRuralRJ, ele estudando Administração de empresas e eu Educação Física.
O que motivou ou inspirou vocês a realizar as viagens e o projeto?
Daniele: Nós já éramos vegetarianos quando descobrimos o prazer de viajar. No começo acabávamos comendo qualquer coisa limitada, pois não planejávamos a parte da alimentação antes da viagem. Quando percebemos que o planejamento da viagem não deveria incluir apenas as passagens, onde se hospedar e o que fazer, mas onde comer também, começamos a descobrir coisas maravilhosas antes, e ficávamos durante a viagem mais tranquilos e felizes, o que nos permitia fazer descobertas veganas ótimas ao acaso também (hoje temos um sensor mais apurado também. rs Junto com o fato da oferta vegana ser mais abundante atualmente). Resolvemos então criar o blog para registrar e compartilhar essas descobertas com os demais viajantes vegetarianos ou veganos e vão viajar para aquele destino.
O que seus amigos e familiares acham desse estilo de vida?
Eles acham bacana. O blog acabou por desmistificar muito aquela impressão de que vegetarianos e veganos comem de forma restrita (e não estrita), e que passam apertos em viagens. Na verdade fazemos muitas descobertas bacanas por estar sempre procurando algo. Isso acabou até encorajando alguns amigos a mudarem seus hábitos e se tornarem veganos.
Quais lugares vocês já visitaram?
Daniele: Nós ainda estamos conhecendo melhor o Brasil e América Latina. Pelo Brasil já fomos a Maceió, Belém do Pará, Bonito, Recife, Curitiba, Gramado, Paraty, entre outros. E na América do Sul estivemos em algumas cidades no Chile, Peru e em Buenos Aires, que foi o primeiro destino registrado no Blog.
O que seus amigos e familiares acham desse estilo de vida?
Daniele: Eles acham bacana. O blog acabou por desmistificar muito aquela impressão de que viajantes vegetarianos e veganos comem de forma restrita (e não estrita), e que passam apertos em viagens. Na verdade fazemos muitas descobertas bacanas por estar sempre procurando algo. Isso acabou até encorajando alguns amigos a mudarem seus hábitos e se tornarem veganos.
Vocês acham que serem viajantes vegetarianos é um problema ou limitação para viajar ou ser nômade?
Daniele: Nem um pouco. Há muitas formas e estilos de se alimentar para viajantes vegetarianos. Temos uma gama de alimentos vegetais in natura disponíveis, pois muitos preferem fazer sua própria comida mesmo em viagens. Ou porque está na casa de alguém, ou porque escolhe uma hospedagem que disponibiliza a cozinha. Se depender da oferta dos estabelecimentos comerciais, o viajante vegetariano deve se planejar antes, e a internet e as mídias sociais ajudam muito hoje em dia (pesquisar, anotar, perguntar...), ou se come em restaurantes com buffet self service, que sempre permite criar pratos ricos em verduras, legumes e grãos. Mas hoje em dia está cada vez mais simples encontrar pratos veganos.
Vocês usam dinheiro na viagem? Pouco, muito, como é?
Tiago: Pouco, a Dani consegue ser muito controladora. Ela faz uma planilha com os custos diários e procuramos seguir o que calculamos nessa planilha. Tem dado certo, até agora. Além disso, não costumamos fazer compras. Só gastamos basicamente com alimentação, hospedagem, transporte e ingressos (mas sempre priorizando atividades gratuitas ou mais em conta).
Vocês juntaram dinheiro e foram viajar ou trabalham durante a viagem? Como juntaram e/ou como se mantém?
Tiago: Normalmente juntamos, fazemos um planejamento antecipado e compras no cartão de crédito para juntar pontos e milhas. Desse jeito ou a gente consegue um bom desconto em passagem ou até mesmo conseguimos trocar a passagem. E fugimos das datas de pico, viajando na baixa temporada.
Como vocês administram esse dinheiro na estrada?
Tiago: Depois de planejar e planilhar os custos diários vamos acompanhando como está o nosso gasto, para não passar desse orçamento. Tem dado certo.
Um monte de casais acha que viajar em casal pode ser um problema. O que vocês acham e o que diriam a estes casais?
Daniele: Vai rolar estresse? Vai! rs Porque terão que tomar decisões de forma rápida, poderão se deparar com situações periclitantes, estarão convivendo intensamente, etc. Mas basta aprender a lidar com isso e com o outro, sabendo negociar, ceder, priorizar e abstrair pra aproveitar o momento. É preciso estar em sintonia, ou saber dar espaço e respeitar. Nem na vida deveria ter espaço pra discussões bobas, quanto mais em uma viagem!
Qual é o estilo de viagem de vocês? Se hospedam em albergues, camping, hotéis?
Daniele: A gente fica mais em hotéis e pousadas. Escolhemos albergue quando vajamos com amigos, como foi pra São Paulo e Peru. No Peru, a escolha foi principalmente porque seria uma viagem mais longa, então o valor da hospedagem pesaria. E gostamos muito! Em uma das idas a Paraty ficamos em camping, e lá foi uma experiência bacana, mas já não é mais muito a nossa praia.
Vocês sentem medo de algo durante a viagem?
Daniele: Eu morro de medo do Tiago se quebrar fazendo alguma estripulia e acabar com o resto da viagem! haha. Ele quer pular de pedra em cachoeira, fazer sandboard, descer ladeira de skate, etc. Meu grande medo é sofrer algum acidente e depender de cuidados médicos. Então basicamente o meu maior medo é de não ter saúde para aproveitar a viagem. De resto, eu costumo me sentir mais segura do que geralmente sinto no Rio de Janeiro.
E os medos que haviam antes de partir, quais eram? Eles permanecem?
Qual foi a coisa mais importante que vocês aprenderam nas viagens até agora?
Daniele: Que conhecer nossa própria história e cultura é empoderador. A gente vê e aprende tanta coisa do ponto de vista do colonizador, e quando viajamos ao Peru foi catártico. Foi a viagem mais incrível, e ficamos admirados pela história que eles conseguiram cavar de baixo dos escombros da colonização, e tentaram reerguer com orgulho. A religião, a arquitetura, os remédios naturais. Que possamos descobrir e ter mais contato com a história e cultura pré-colonial, porque a América do Sul é riquíssima. Outra coisa que aprendemos e tem a ver com a primeira, é conhecer melhor o nosso próprio bairro, e ter um "olhar de fora" sobre ele, como quado estamos viajando, onde procuramos os melhores ângulos para tirar fotos que valorizam o lugar, sair andando e descobrindo cantos, querer visitar a Área de Preservação Ambiental da região, etc.
Que conselho vocês dariam para as pessoas que procuram fazer algo semelhante?
Daniele: Priorizar, simplificar e aproveitar o caminho.
Querem acrescentar algum pensamento ou observação?
Daniele: Eu gostaria de acrescentar que nem tudo em viagem é maravilhoso para a cidade que é explorada. O turismo pode ser uma indústria extremamente exploradora. Muitos animais são escravizados para o turismo, desde para truques, passeios montados, ou principalmente para tirar fotos com os turistas. Essa atividade se fortaleceu muito com as redes sociais, que deram um novo sentido para a fotografia e experiências (muitas vezes nada autênticas, como nesse caso). As pessoas estão entorpecidas pelas novas experiências do lugar, aceitam pagar para fazer tudo e ingenuamente acreditam no que os vendedores dizem sobre aquilo não ser ruim para os animais. Em muitos casos pessoas são exploradas, sejam perdendo suas moradias com a centrificação, ou tendo sua cultura e vidas manipuladas, mostrando pessoas como em zoológicos humanos, como ocorre em menor escala nas favelas do Brasil, ou em situações mais absurdas como as chamadas mulheres-girafa na Tailândia, que são refugiadas e não podem sair daquela área delimitada, estudar ou trabalhar, e nem tirar as argolas, senão perdem ajuda de custo do governo. E isso serve para serem uma atração turística e gerar lucro. É muito importante o viajante prezar pelas atitudes conscientes e não financiar um turismo exploratório abusivo. E não deixar de levar seus valores na bagagem, com muita disposição de vivenciar coisas novas sem passar por cima de ninguém. Você pode acompanhar as aventuras do casal Daniele e Thiago pelo Facebook Vegetariando Por Aí