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Vale do Pati: Chapada Diamantina

Vale do Pati - Chapada Diamantina - Mirante

Vale do Pati: Chapada Diamantina

O Vale do Pati está localizado na Chapada Diamantina, no estado da Bahia. Com longas trilhas que levam a mirantes e locais com vistas de tirar o fôlego, o Pati conta com uma natureza inexplicável. Em razão disso, o Vale do Pati é o trekking mais procurado no Brasil!

Está planejando encarar essa aventura? Fiz esse artigo para te ajudar a descobrir como chegar, quantos dias ficar e qual a melhor época de ir para o Vale do Pati, além de quanto custa, qual o nível de dificuldade do trekking do Vale do Pati e onde se hospedar no Vale.

Valores e dados de agosto de 2019.

Como chegar no Vale do Pati?

Para chegar na Chapada Diamantina, região onde está o Vale do Pati, você tem basicamente duas opções: pousar em Salvador e pegar um ônibus ou um carro até alguma das cidades da Chapada Diamantina, ou pousar em Lençóis, principal cidade da região (e a mais estruturada). Geralmente pousar em Lençóis é caro, por isso a forma mais barata para ir à Chapada Diamantina é pousar em Salvador, e de lá pegar um ônibus até a Chapada (cerca de 7 horas de viagem).

Há três horários de ônibus saindo de Salvador para a Chapada Diamantina diariamente: 07:00, 13:00 e 23:00. A empresa que faz esse trecho é a Rápido Federal / Real Expresso, e a passagem custa em torno de R$100 (é possível comprar online).

Agora, partimos para o ponto principal, que é como chegar no Vale do Pati. Há três lugares principais para começar o trekking: Guiné (pertencente a Mucugê), Andaraí ou Vale do Capão (pertencente a Palmeiras). Todos os lugares estão localizados na Chapada Diamantina, cabe escolher qual fica mais a mão para você, ou seja, o que se encaixa melhor no seu roteiro dentro da Chapada Diamantina.

O caminho mais fácil para iniciar o trekking no Vale do Pati é por Guiné, uma vila do distrito de Mucugê. Eu comecei o trekking pelo Vale do Capão, pois já estava por lá, e não foi nada de outro mundo também. O caminho iniciou com uma longa subida, e depois foi uma caminhada em solo plano (conhecidos como gerais do Vieira / gerais do Rio Preto). No final dos gerais, uma nova subida e, então, finalmente, uma descida (parte mais desafiadora do dia).

É imprescindível dizer que, independente do caminho que você escolher para entrar no Vale do Pati, você irá percorrer longos quilômetros e muitas subidas e descidas, então não se prenda muito nisso.

Em quanto tempo fazer o Vale do Pati?

Essa foi provavelmente minha maior dúvida antes de fazer o trekking do Vale do Pati. Procurando na internet, achei muitos roteiros, com diferentes caminhos e durações. Infelizmente, eu tinha poucos dias pra ficar na Chapada Diamantina, então escolhi o roteiro de 2 noites e 3 dias.

Esse tempo foi suficiente para conseguir conhecer os principais atrativos do Vale do Pati (Morro do Castelo e Cachoeirão, por exemplo) mas sem dúvidas deixei de ver muita coisa. Também, foi bem cansativo e puxado: fiz um roteiro normal de 4 dias em 3, pois queria conhecer o máximo do Vale. Não vou dizer que achei pouco tempo, ou que me arrependi, porém um dia a mais realmente fez falta e facilitaria as coisas.

Vale do Pati - Chapada Diamantina - Final de tarde
O contato com a natureza viva no Vale do Pati é muito muito intenso. O tempo ideal para fazer o trekking é de 4 noites, 5 dias. Foto: Joana Pescador.

Para quem deseja conhecer o Vale do Pati, não aconselho escolher um roteiro de apenas 1 noite, pois é necessário 1 dia apenas para entrar no Vale, e outro para sair dele. Com segurança, digo que você deve reservar, no mínimo, 2 noites, mas o ideal mesmo seriam 4 noites! Assim, os dias não serão extremamente puxados, e você conseguirá visitar e sentir com tranquilidade toda a natureza e paz que só o Vale do Pati proporciona.

Qual a melhor época para fazer o Vale do Pati?

Se alguém me perguntasse qual a melhor época para fazer o trekking do Vale do Pati, minha resposta seria depende. Isso porque não há melhor ou pior época, mas sim épocas com climas diferentes, que agradarão objetivos diferentes. O Vale do Pati pode ser visitado durante todo o ano, porém o período de chuvas é do mês de novembro ao mês de abril. É difícil prever o tempo por lá e, mesmo indo fora da época de chuvas, não é garantido que você terá apenas dias de sol.

Em um primeiro momento, eu pensei: ué, óbvio que vou fora do período de chuvas! Subidas, descidas e travessias com chuva não me pareciam uma boa ideia. Porém, após conversar com amigos que haviam ido anteriormente para o Vale do Pati, percebi um outro lado. As cachoeiras (maiores atrativos do Vale do Pati) poderiam estar com uma quantidade de água bem reduzida fora da época de chuva.

Resumindo, cabe a você escolher o que você prefere: (1) ir na época de chuvas e talvez fazer o trekking com uma garoa e/ou chuva, mas ver as cachoeiras mais cheias, ou (2) ir fora do período chuvoso e correr o risco de encontrar as cachoeiras com pouca água, ou até mesmo secas.

No final, fui para o Vale do Pati em junho e não peguei nenhuma chuva, mas na semana anterior havia chovido muito pelo que fiquei sabendo, portanto as cachoeiras estavam com bastante água. Muita sorte!

Onde se hospedar no Vale do Pati?

Antigamente, o Vale do Pati era habitado por muitos nativos em razão do seu solo fértil e pela forte cultura do café naquela região. Após a queda do cultivo de café, houve um êxodo em massa dos habitantes do Vale do Pati, e hoje ele conta apenas com vinte e poucas famílias.

Esses nativos hoje vivem praticamente do turismo na região, prestando serviço de hospedagem e alimentação para as milhares de pessoas que realizam o trekking do Vale do Pati anualmente.

Os principais pontos de apoio no Vale do Pati são: a antiga prefeitura do Vale, a hospedagem do Sr. Wilson e Dona Maria, a hospedagem Igrejinha e a Casa da Dona Raquel. Além desses locais, há alguns outros, e todos com estrutura parecida.

Vale do Pati - Chapada Diamantina - Mercearia
Típica mercearia das hospedagens do Vale do Pati. Vendem o básico, com o preço justo para a região. Foto: Cris Marques - Raízes do Mundo.

Geralmente as hospedagens têm quarto coletivo e de casal, banheiros com chuveiro (água é gelada na maioria das vezes) e cozinha. Algumas dessas hospedagens no Vale do Pati contam com camping. Também, algumas delas contam com um pequeno armazém com condimentos básicos (enlatados), isqueiro, cerveja, refrigerante, etc. O valor das coisas é alto (uma lata de cerveja custa em média R$10, por exemplo), mas é compreensível se você considerar que tudo que está a venda lá chega, obrigatoriamente, por meio de burros ou cavalos (ou nas costas das pessoas).

Já está incluído na diária dessas hospedagens, normalmente, café da manhã e jantar. É bom conferir antes de ir!

Agora, para definir em qual hospedagem ficar em cada dia, é importante delimitar, primeiro, o seu roteiro e quais atrativos você deseja conhecer, para então escolher a hospedagem mais próxima em cada dia.

As noites nesses locais são de grande interação entre os grupos (muitos estrangeiros), e às vezes há uma fogueira para ajudar no frio (principalmente no inverno). O clima é muuuito show!

Quanto custa o trekking do Vale do Pati? É preciso contratar um guia para o Vale do Pati?

Na minha opinião, o primeiro trekking no Vale do Pati deve ser feito com um guia. Eles saberão os melhores lugares para visitar (podendo adaptar o roteiro) de acordo com o clima do dia, além de saberem identificar facilmente os melhores lugares para se hospedar no Vale do Pati em cada dia.

Ainda, os guias geralmente carregam as comidas, o que reduz MUITO o peso da sua mochila, auxiliando na caminhada. Também, vale a pena contratar um guia para realizar o Vale do Pati pela segurança. Caso aconteça alguma coisa com você durante o trekking, o resgate é bem difícil. Além de não ter sinal de celular, o acesso ao Vale é muito limitado.

Por fim, o último ponto positivo de ter um guia é o contato com as hospedagens. Você não consegue contatar diretamente as hospedagens no Vale do Pati, pois poucas tem Wi-Fi (e as que têm apenas usam para caso de emergências locais, não para os visitantes). Então, sem guia, você terá que ir torcendo para ter uma vaga na hospedagem que você deseja ficar. Ano novo por lá é bem concorrido, mas para acampar geralmente há lugar – só que nem todas as casas contam com camping.

O valor médio cobrado pelos guias é de R$250 por dia. Esse preço já inclui, na maioria das vezes, hospedagem e comida.

Vale do Pati - Chapada Diamantina - Trekking
O Vale do Pati proporciona vistas como essas! É uma experiência que não cabe em palavras, só quem vai consegue sentir. Foto: Parenthèse Cap-Vert - Flickr.

Por fim, como já dito, para dormir no Vale do Pati você tem a opção de se hospedar nas casas dos nativos ou acampar. Então, se você escolher fazer o trekking sem guia, importante saber que o valor de uma diária nas casas dos nativos varia de R$100 a R$120 por pessoa, e para o camping o valor gira em torno de R$20. Geralmente, no primeiro caso, já está incluso, além da diária com roupa de cama e toalha, café da manhã e jantar.

Importante: se você optar por fazer o trekking do Vale do Pati com um guia, escolha um guia cadastrado nas associações de guias da Chapada Diamantina. Algumas trilhas são bem delimitadas, e outras nem tanto. Conhecer bem a região é imprescindível para fazer um trekking seguro.

Qual o nível de dificuldade do trekking do Vale do Pati?

As trilhas do Vale do Pati são de dificuldade moderada à alta. Todas têm subidas e descidas, algumas muito íngremes. Ainda, dependendo do tempo da semana que você estiver no Vale, os rios poderão estar mais secos, facilitando a passagem, ou mais cheios. Se você tem problema com altura, bom saber antes de ir que muitas partes serão super altas e com pouca segurança.

Vale do Pati - Chapada Diamantina - Vista
O trekking no Vale do Pati é desafiador e intenso, não é à toa que é o trekking mais procurado do Brasil! Foto: Marco Lacerda - Flickr.

Sem dúvidas, para realizar o trekking do Vale do Pati com tranquilidade é preciso ter um certo preparo físico. Os joelhos ficam sobrecarregados, principalmente nas descidas, e uma lesão poderá estragar a aventura.

Em média você irá fazer uns 20 km por dia, mas não se assuste com a quilometragem. Para mim o dia mais difícil foi um que fiz apenas 12 km (Morro do Castelo junto com a Cachoeira dos Funis). O Morro do Castelo tem uma subida e uma descida super íngreme que prejudicaram bastante (não vou negar) os meus joelhos, mas a vista do topo foi a melhor de todas!

O que levar para o Vale do Pati?

Regra básica: quanto menos você levar, melhor. Tudo que você não for levar para o Vale do Pati você poderá deixar na última hospedagem que você ficou, por exemplo, ou na própria agência de turismo / casa do guia contratado (geralmente eles não se importam).

Abaixo, fiz um check list básico com as coisas imprescindíveis e que irão facilitar o seu trekking no Vale do Pati:

  • Mochila de ataque de 20/30 litros;
  • 1 ou 2 roupas de banho;
  • 1 calça de trekking (ou legging);
  • 2 ou 3 blusas para o dia;
  • 1 roupa para a noite;
  • 1 chinelo;
  • 1 sapato para trekking (impermeável, firme, solado bom, já amaciado);
  • 1 corta vento ou anorak;
  • 1 meia para cada dia de trekking;
  • 1 pijama;
  • 1 roupa íntima para cada dia de trekking;
  • Protetor solar;
  • Boné;
  • Óculos de sol;
  • Bastão para caminhada (opcional);
  • Garrafa para água reutilizável;
  • Lanterna (de preferência com suporte para cabeça, você - ou pelo menos eu - usei bastante as mãos);
  • Farmácia básica: Dorflex, salompas, creme de arnica, repelente (...);
  • Lanchinhos (barrinhas, frutas secas, etc);
  • Tensor para joelho/pulso/tornozelo;
  • Carregador de celular/baterias extras;
  • Dinheiro em espécie.

Lugares imperdíveis no Vale do Pati!

Morro do Castelo

Atrativo mais desafiador do Vale do Pati (subida e descida íngremes), porém o que mais vale a pena na minha opinião. No topo do morro há uma enorme gruta. É possível atravessá-la (por isso a importância da lanterna) e apreciar a vista incrível do mirante. A parte da gruta é mais tranquila do que o restante do percurso. Evite visitar o Morro do Castelo em dias de chuva intensa.

Cachoeirão

Aqui temos duas opções:

Por cima

O Cachoeirão é uma cachoeira de 300 metros de altura, com cerca de 18 quedas de água. Dependendo da época do ano ela estará com mais ou menos quantidade de água. Trilha tranquila, com uma vista singular, imperdível!

Por baixo

Há também a possibilidade de conhecer o Cachoeirão por baixo. A vista, pelo que ouvi, não é tão bonita e impressionante quanto a vista por cima! Ainda, esse caminho tem a vantagem que você poderá se banhar nas lagoas formadas com as diversas quedas de água que vêm do Cachoeirão.

Cachoeira dos Funis

Trilha tranquila, com pedras um pouco escorregadias. Deliciosas cachoeiras, ótimas para banho! Hospedagem Igrejinha é a mais próxima.

Dicas extras sobre o Vale do Pati

  • Levar pouco peso na mochila é essencial. Leve somente o necessário para o Vale do Pati - quanto mais peso, mais dificuldade você sentirá durante o trekking;
  • Leve dinheiro em espécie. Não tem no que gastar por lá, exceto nas hospedagens (e na merceariazinha delas);
  • As hospedagens têm tomadas, mas poucas e bem disputadas. Levar bateria extra para o celular e/ou câmera fotográfica é uma boa pedida.

O trekking no Vale do Pati é desafiador e intenso, mas a sensação de superação ao terminá-lo é indescritível! Se você busca imersão na natureza de verdade, esse lugar localizado no coração da Chapada Diamantina é o lugar perfeito!

Espero que esse artigo tenha ajudado você! Já foi para o Vale do Pati? Conta pra gente nos comentários!

Relato: Joana Pescador - valorizando culturas, trocando experiências e colecionando histórias

Valores e dados de agosto de 2019.

Foto Cabeçalho: Parenthèse Cap-Vert - Flickr.